A relevância do agro dos países emergentes na economia global
11 de dezembro de 2024
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Nas últimas duas décadas, tivemos um rearranjo significativo das forças econômicas globais. Tradicionalmente, os países ricos, concentrados no Hemisfério Norte, lideravam a manufatura de alta tecnologia e, portanto, protagonizavam na economia global. Porém, nos últimos anos, o mundo se tornou multipolar: o Sul Global ganhou maior relevância e países em desenvolvimento, como o Brasil, têm sido chamados para a linha de frente de importantes decisões e soluções de problemas mundiais.
Grandes marcos dessa mudança foram a criação do G20 em 1999 e a posterior relevância que o grupo alcançou, especialmente na crise financeira internacional em 2008. A formação dos BRICS em 2009 também veio na esteira dessa “realocação” de forças econômicas, que reposicionou os países emergentes como peças-chave nos momentos de crise das grandes economias, especialmente os Estados Unidos. No período em que vivemos, vemos o Brasil se beneficiar cada vez mais dessa lógica. E o agronegócio é um dos grandes responsáveis pelo potencial brasileiro no cenário mundial.
Neste artigo, vamos falar sobre a ascensão dos países uma vez considerados “terceiro mundo”, que hoje lideram discussões econômicas importantes – como o financiamento dos países ricos para projetos de sustentabilidade nas nações mais pobres – ou atuam como a fonte de soluções para problemas colossais, como a crise alimentar mundial. Nesse contexto, também vamos destacar as potencialidades do Brasil para assumir o protagonismo que já lhe é endereçado pelas lideranças globais.
Brasil: de “terceiro mundo” a economia emergente
As classificações de primeiro, segundo e terceiro mundos surgiram no contexto da Guerra Fria. O “primeiro mundo” se referia aos países capitalistas desenvolvidos e aliados dos EUA, como Japão, Austrália e as nações da Europa Ocidental. O “segundo mundo” era composto pelos países comunistas e socialistas liderados pela União Soviética e seus aliados. Já o “terceiro mundo” incluía nações que não se alinhavam explicitamente a nenhum dos dois blocos, e possuíam baixos níveis de desenvolvimento econômico, alto grau de pobreza, e instabilidades políticas.
No entanto, com o fim da Guerra Fria e o aumento da globalização, esses rótulos ficaram obsoletos. Adotou-se, então, a classificação de países desenvolvidos, emergentes (ou em desenvolvimento) e subdesenvolvidos.
Nesse cenário, o Brasil passou de país de terceiro mundo para país emergente – categoria que define economias com rápido crescimento econômico e potencial significativo de desenvolvimento. No mesmo grupo, estão China, Índia, Rússia, África do Sul, México, entre outros. Hoje, essas nações exercem um papel central em setores como tecnologia, agronegócio, industrialização e serviços, impactando diretamente a economia global e, consequentemente, o rearranjo da liderança econômica.
Sul Global
Mais recentemente, a denominação “Sul Global“ tem sido utilizada para designar os países pobres ou em desenvolvimento – que, em sua maioria, estão no Hemisfério Sul do planeta. É um termo que denota a importância conquistada por essa parte do globo frente à histórica predominância do Hemisfério Norte nas decisões políticas e econômicas.
G20 e a potência dos emergentes
Como citamos acima, o movimento de maior destaque para economias até então subestimadas foi fortemente impulsionado pela crise global de 2008 – quando, como analisa o artigo do Secretário de Assuntos Multilaterais Políticos, embaixador Carlos Márcio Bicalho Cozendey, houve um “entendimento dos principais países desenvolvidos de que seria preciso contar com a ação e os recursos dos principais países emergentes para sair da crise. Concordava-se, portanto, em chamar esses países ao círculo decisório central da economia e dos organismos econômicos internacionais, na expectativa de seu comprometimento com os esforços para a retomada. (…) As medidas anticíclicas, monetárias, fiscais e financeiras funcionaram e a coordenação do G20 foi considerada resposta eficaz e capaz de conter o pânico e auxiliar na retomada da confiança. A economia global conseguiu reverter tendências depressivas e criar condições para a recuperação.” A análise de Cozendey é de 2011, quando ocupava a cadeira de vice-ministro (deputy) do Brasil no G20. Hoje, com uma distância temporal maior, vemos como essa visão se consolidou, de fato.
Os países emergentes se tornaram motores cruciais do comércio internacional, das cadeias produtivas e da inovação tecnológica. China e Índia, por exemplo, se tornaram centros de manufatura e tecnologia de ponta, enquanto Brasil e África do Sul se destacam em commodities agrícolas e minerais. Além disso, muitos desses países estão diversificando suas economias para reduzir a dependência de matérias-primas, e fortalecer o desenvolvimento tecnológico nacional, a soberania de dados, os serviços financeiros e a transição energética.
Como pontuou o coordenador do Centro Internacional de Políticas para o Desenvolvimento Inclusivo (IPCid), do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), André de Mello e Souza, em reportagem recente do Valor Econômico:
“O Brasil é um ator demasiadamente importante na questão ambiental e essa marca brasileira ficou clara no G20. É uma área que podemos liderar”, avaliou o especialista ao comentar o foco em transição energética no grupo.
Tecnologia e agro: vetores do protagonismo dos países em desenvolvimento
Tecnologia
O avanço da tecnologia abriu caminho para a diversificação econômica e a aceleração do ambiente de negócios nos países em desenvolvimento. Junto a isso, o crescimento do agronegócio, também impulsionado pelas tecnologias tanto de hardware quanto software para o campo, foi um dos principais fatores que alçaram os países terceiro-mundistas ao protagonismo contemporâneo.
A Índia, por exemplo, tornou-se um centro global para serviços de TI e tecnologia de software, atraindo empresas multinacionais e startups de tecnologia que veem no país uma oportunidade para inovação e custo-benefício. Já a China, com seu poder de manufatura, passou a ser líder em tecnologia de hardware, inteligência artificial e energias renováveis, exportando produtos e tecnologias para todo o mundo.
Além disso, países do Sul Global, como Quênia e Nigéria, têm se destacado na criação de soluções tecnológicas para problemas regionais, como o desenvolvimento de fintechs (startups de serviços financeiros) que digitalizaram pagamentos, democratizando o acesso ao sistema financeiro e agilizando a economia local como um todo. O Brasil também é um case dessa transformação, com o desenvolvimento de tecnologias como o PIX, uma empreitada que uniu setor público e iniciativa privada na criação de um produto considerado altamente inovador em nível global.
Esse cenário evidencia que o papel dos países emergentes vai muito além do mero fornecimento de mão de obra ou matérias-primas: virou um papel central para o crescimento econômico mundial.
O agro de inteligência
Um dos maiores desafios globais hoje é a crise alimentar. Artigo de José Giacomo Baccarin ao Jornal da USP afirma que “a maior crise alimentar do século 21 pode estar às portas”. Uma estatística da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) que anuncia esse futuro grave diz respeito ao aumento do número de pessoas em situação de insegurança alimentar aguda no mundo: de 135 milhões em 2019 para 345 milhões em 2022. Além disso, mais de 800 milhões de pessoas ainda carecem de alimentação adequada, mostra que estes produtos, em termos reais, ficaram 28% mais caros, entre 2020 e 2021, e 18% mais caros em 2022 (até agosto). Em março deste ano, o IPA atingiu seu pico histórico, desde 1960, em que foi primeiramente divulgado.
Nesse sentido, o agronegócio dos países em desenvolvimento é chave para combater esse problema. O Brasil é um dos maiores exportadores de alimentos do mundo, liderando a produção de soja, carne bovina e café. E, por isso, ocupa posição estratégica nas cadeias globais de abastecimento de alimentos.
A dependência mundial dos produtos agropecuários dos países emergentes fortalece a posição dessas nações no cenário internacional. Como destacou Rodrigo Kede, presidente da Microsoft Ásia e Board Member da Agrotools, na segunda edição do evento O Agro do Futuro: “em todas as ondas de crescimento desde a revolução industrial até, agora, a digital, a riqueza ficou concentrada nos países desenvolvidos. Isso tem mudado, e mudará cada vez mais daqui para frente. As maiores riquezas do futuro não serão só tecnologia, indústrias e companhias. A América Latina está sobre a maior parcela de terra arável e de água potável do mundo. Os países emergentes passarão a ter uma função ainda mais relevante na economia mundial.”
Os avanços tecnológicos aplicados nesse contexto de privilégios naturais garantem ainda mais força ao Brasil como potência global. A inteligência de dados e processos no campo – desde o uso de drones até inteligência artificial e biotecnologia – tem otimizado produtividade e sustentabilidade. E isso torna os emergentes ainda mais competitivos no mercado global.
Além de garantir maior eficiência produtiva, a tecnologia no agro é um dos principais caminhos para solucionar problemas recentes de safras de commodities, exacerbados pelo aquecimento global, como epidemias de pragas em plantações. No caso da produção de cacau, por exemplo, condições climáticas adversas, com chuvas intensas seguidas de altas temperaturas e períodos de seca, estão dizimando cacaueiros no Brasil, Costa do Marfim e Gana.
O futuro dos países emergentes e a nova economia global
A ascensão dos países emergentes aponta para uma economia global ainda mais multipolar e menos dependente dos antigos centros econômicos. Na prática, isso significa que as decisões econômicas e políticas globais serão cada vez mais influenciadas por essas nações antes marginalizadas.
Mas esse crescimento também traz desafios, como a necessidade urgente de melhorias em infraestrutura, desigualdade social, e impactos ambientais ainda não resolvidos, como emissões de carbono e desmatamento. Para isso, a tecnologia deve ser colocada na linha de frente, a fim resolver esses gargalos e impulsionar o Brasil na sua jornada de destaque nas transformações globais dos próximos anos principalmente no agronegócio.
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