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Biodiversidade e produção de alimentos: um desafio global

Biodiversidade e produção de alimentos: um desafio global

13 de junho de 2023

Tempo de Leitura: 6 minutos

Escalar a produtividade no campo e, ao mesmo tempo, preservar e conservar o meio ambiente são caminhos cada vez mais interdependentes – e uma exigência que só aumenta.

A biodiversidade costumava ficar apenas no coro do discurso ambiental. Hoje, adquire contornos de negócio e uma defesa uníssona no mercado. Está na mesa do investidor, nas discussões de board, em acordos comerciais entre potências mundiais.

Como destacou recente artigo da Bloomberg: “o setor financeiro tem prestado mais atenção à biodiversidade depois que um acordo histórico foi fechado em uma conferência das Nações Unidas em dezembro (de 2022), abrindo caminho para novas regulamentações e aumento da demanda dos investidores. Gestores de dinheiro iniciaram estratégias para investir em empresas que, segundo eles, ajudarão a minimizar os danos aos habitats naturais.”

Foi desse evento da ONU, inclusive, que resultou o Global Biodiversity Framework, estabelecendo metas como:

– Assegurar que todas as áreas de agricultura, aquicultura e silvicultura sejam geridas de forma sustentável, através de conservação e uso sustentável da biodiversidade, aumentando a produtividade e resiliência nos sistemas de produção.

O que é biodiversidade?

Uma das definições mais utilizadas, que abarca a complexidade do termo, foi estabelecida pela Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), um tratado da ONU na ECO-92, que diz: biodiversidade é

“a variabilidade entre os organismos vivos de todas as origens, incluindo, entre outros, os ecossistemas terrestres, marinhos e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte; compreende a diversidade dentro de cada espécie, entre espécies e dos ecossistemas.”

Biodiversidade e o agronegócio brasileiro

O Brasil é o maior player global da biodiversidade: temos a maior biodiversidade do planeta. Concentramos cerca de 20% das espécies do mundo. Isso quer dizer, como explica a Embrapa, que “de cada cinco espécies vegetais do mundo, uma ocorre no Brasil”.

Ao mesmo tempo, nosso país é um dos maiores produtores de alimentos do mundo, e tem o agronegócio como o responsável por cerca de 1/4 do PIB.

Nos últimos relatórios anuais da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês), o Brasil oscila do segundo ao quarto lugar como maior produtor e exportador de alimentos.

Visto ser inerente manter a biodiversidade para o andamento de todas atividades agropecuárias, conciliar proteção ambiental com produção de riqueza nacional é um desafio. E, também, um caminho mandatório.

O impacto do agro na biodiversidade

O agronegócio depende dos processos da natureza e dos seres vivos – ao mesmo tempo em que os impacta – para conseguir produzir cada vez mais, sem a necessidade de abrir novas áreas de vegetação nativa, e, ainda assim, suprir a crescente demanda global por alimentos.

“Embora as fazendas possam ser gerenciadas de forma a minimizar seus danos ao meio ambiente, o foco da agricultura industrial na produtividade significa que muitas fazendas são prejudiciais para as espécies selvagens próximas e distantes. Quando os ambientes são muito alterados ou poluídos pela agricultura industrializada, espécies vulneráveis ​​podem perder seus habitats e até mesmo se extinguir, prejudicando a biodiversidade”, alerta o Fórum Científico de Sustentabilidade na Agricultura/EUA e Reino Unido.

Segundo a ONU, perdemos cerca de 23 bilhões de toneladas de solo fértil por ano. 

“Nesse ritmo, todo o solo fértil desaparecerá em 150 anos, a menos que os agricultores se convertam a práticas que restaurem e construam a matéria orgânica do solo, um componente essencial da fertilidade”, alerta a Regeneration International.

A expansão agrícola, mesmo em áreas legais, reverbera nos ecossistemas:

  • A agricultura extensiva avançou sobre áreas nativas;
  • A agricultura intensiva potencializou o uso de fertilizantes e pesticidas;
  • A mecanização do campo acabou poluindo o meio ambiente;
  • O desmatamento transformou grande parte dos biomas globais em pastos, lavouras e florestas de monocultura.

E essas ações figuram entre as responsáveis pela crise climática atual, ao provocarem: conversão de habitats naturais, degradação do solo, desajustes em microclimas, contaminação de cursos de água, e extinção de flora e fauna.

Práticas sustentáveis no agronegócio

A evolução tecnológica, a profissionalização do campo, e regulações políticas e econômicas levaram a inúmeros avanços.

Hoje, o agro não apenas consegue preservar a biodiversidade, como fomentá-la, através de práticas socioambientais que – além de conservarem – estimulam o fortalecimento de ecossistemas e a regeneração de territórios. Por consequência, gera-se impacto positivo no combate às mudanças climáticas.

“A biodiversidade na domesticação de plantações e gado é importante porque garante que haja um grande pool de genes para características como resistência a doenças; cultivar apenas algumas variedades de plantas torna nosso suprimento de alimentos vulnerável a ameaças como mudanças climáticas e doenças.” – Academia Nacional de Ciências, Engenharia e Medicina dos EUA

Nesse sentido, rotação de culturas e integração lavoura-pecuária-floresta, por exemplo, desempenham papel crucial para evitar a perda da biodiversidade do solo, e minimizar os impactos aos ecossistemas nativos.

Outras mudanças consistentes, como a aversão do produtor rural ao uso indiscriminado de agroquímicos e o pleno respeito às APPs (Áreas de Preservação Permanente) e à Reserva Legal estão entre os movimentos do agronegócio brasileiro que contribuem com a biodiversidade.

Junto a isso, destacam-se:

  • Sistema de Plantio Direto: a prática implementada no Brasil na década de 1970 transformou o manejo do solo, garantindo proteção e produção de matéria orgânica para recomposição;
  • Bioinsumos: o uso de insumos agrícolas biológicos – com matérias-primas de extratos naturais, enzimas, metabólitos secundários, feromônios, microrganismos e macrorganismos – para controle de pragas, nutrição e adubação de culturas tem posicionado o Brasil como protagonista em manejo sustentável.

O momento é novo, com força para regeneração e práticas sustentáveis, e, além disso, mais critério e transparência nas posturas responsáveis.

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