O impacto de IA e biotecnologia no futuro do agronegócio brasileiro
23 de outubro de 2024
Tempo de Leitura: 9 minutos
Inteligência artificial e biotecnologia são dois temas que vêm dominando o debate público, cada vez mais. Estão entre os assuntos mais presentes na mídia, nas conversas de negócios, no dia a dia de trabalho, na tomada de decisão. O relatório do SXSW 2024 traz bioengenharia e IA entre as grandes tendências globais em andamento, assim como muitas outras previsões especializadas apontam.
Quando relacionadas com o agronegócio, essas duas frentes de avanço tecnológico dão ainda mais o que falar. Para se ter uma ideia dessa relação direta: o agronegócio é uma das poucas indústrias – do total de 20 – que sentirão o impacto de IA, IA generativa e bioengenharia já no curto prazo, como aponta o estudo do SXSW:
Fonte: report SXSW / 2024
O mercado global de smart agriculture (“agricultura inteligente”), por exemplo, deve atingir US$ 15,3 bilhões em 2025. O dado é de um estudo publicado em 2022 na ScienceDirect, sobre a interação entre a Internet das Coisas (IoT) e a agricultura. A IoT é considerada uma mudança de paradigma no avanço do campo. Ela elimina as fronteiras entre o mundo físico e o virtual, através de dispositivos, máquinas e equipamentos com alto poder de processamento, que permite análise de dados e troca de informações sem a necessidade da presença física no território.
Segundo outro estudo, da Markets and Markets, o mercado de IA na agricultura deve crescer de US$ 1,7 bilhões em 2023 para US$ 4,7 bilhões em 2028. O campo já vivencia de forma tangível essa evolução. E mais ainda: a interseção de IA com biotecnologia.
Cada vez mais, produtores rurais e toda a cadeia produtiva dependem das inovações baseadas em organismos vivos para todas as culturas, atividades, e territórios. Isso porque colhem resultados práticos – como maior eficácia no combate a pragas, doenças e ervas daninhas, e mais eficiência no manejo da qualidade do solo e da implementação de sistemas de irrigação, dentre tantos outros benefícios. Impulsionada por IA, a biotecnologia ganha escala e mais verticalização da inovação, entregando novas soluções para uma infinidade de problemas.
Como funciona a IA no agro
No agronegócio, a inteligência artificial vai desde o uso de drones para o monitoramento de safras até o desenvolvimento de sistemas que otimizam o uso de recursos naturais e insumos agrícolas, de água a fertilizantes. Sistemas de IA podem analisar grandes volumes de dados agrícolas, como padrões de clima, qualidade do solo e necessidades nutricionais. Isso possibilita a quem atua no agro uma tomada de decisão mais assertiva, e traz resultados diretos, como aumento da produtividade e uso otimizado dos recursos – algo crucial no contexto de emergência climática e de um planeta com população crescente.
A aplicação da inteligência artificial no campo potencializa a integração de hardware e software – como sensores, drones, atuadores e maquinário inteligente, alimentando computação em nuvem e análises de big data. Isso produz uma enorme quantidade de dados heterogêneos, como: temperatura, umidade do solo, quantidade de chuva, umidade das folhas, condutividade elétrica (CE) do solo e nível de PH, salinidade de luminância, clima, radiação solar, e movimento de pragas. A IA otimiza a coleta e o cruzamento desses dados e transforma em informações precisas, que apoiam a tomada de decisão e as operações em todas as etapas da cadeia produtiva.
A IA no campo se traduz de várias maneiras, como:
- Análises de drone
- Internet das Coisas (IoT)
- Blockchain
- Machine learning (aprendizado de máquina)
- Visão computacional
- Análise preditiva
- AI-as-a-Service
E possibilita diversos avanços, entre eles:
- Previsão de perdas e eficiência do plantio
- Estratégia de cultivo e desenvolvimento de culturas mais resilientes
- Otimização da agricultura de precisão
- Garantia de mais sustentabilidade
- Aceleração dos avanços genéticos
- Monitoramento em tempo real dos territórios, reduzindo o uso de recursos e minimizando o impacto ambiental
O que é biotecnologia
A biotecnologia, também referenciada por biotech, diz respeito à aplicação de processos biológicos para desenvolver produtos que aprimoram diversos aspectos da vida humana, produção de alimentos e criação de animais, e meio ambiente de uma forma geral. Pela definição da ONU, criada em 1992, biotecnologia se refere a “qualquer aplicação tecnológica que utilize sistemas biológicos, organismos vivos, ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtos ou processos para utilização específica”.
Na agricultura, a biotecnologia já está presente há décadas, na transgenia. O avanço das culturas geneticamente modificadas foi um passo primordial no setor: garantiu melhor produtividade, ao alcançar maior resistência a pragas e condições adversas do clima – um cenário que se intensifica em função das mudanças climáticas. A convergência da biologia com a tecnologia também contribui com a sustentabilidade no agro. Um dos exemplos é a redução do uso de recursos hídricos com plantas modificadas a fim de demandarem menos água.
IA e biotecnologia
Juntas, essas duas áreas prometem revolucionar o futuro da produção agropecuária. Automação e eficiência são os dois grandes resultados da aplicação conjugada de IA e biotech no campo.
O cruzamento das duas disciplinas tem se acelerado nos últimos anos, e constantes inovações chegam ao campo com ferramentas que maximizam a produtividade e, ao mesmo tempo, reduzem o impacto ambiental.
A previsão dos especialistas é que, nos próximos anos, o foco mudará de biotecnologia para biologia generativa – ou seja, modelos de IA otimizando a criação de novas moléculas, medicamentos, materiais, plantas, etc. Na segunda edição do evento O Agro do Futuro, Rodrigo Kede, presidente da Microsoft Ásia e também Board Member da Agrotools, falou sobre as três grandes tendências das próximas duas décadas, sendo a primeira delas justamente a integração de inteligência artificial e biotech.
O papel do agronegócio no futuro digital
A produção de alimentos precisa aumentar 60% até 2050, para alimentar a população mundial, que deve atingir 9,3 bilhões, segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). O agronegócio brasileiro está entre os cinco principais produtores de alimentos do mundo, também de acordo com a FAO. Junto a esses dois dados relevantes, tem-se a intensificação do aquecimento global, que já impacta culturas e territórios em diferentes partes do mundo. As tecnologias ajudam a prever e a diminuir riscos climáticos, favorecendo as operações do agronegócio.
Nesse sentido, a IA a serviço da biotecnologia desempenha uma função crucial para o aprimoramento das atividades agropecuárias em um contexto de mundo desafiador. A demanda crescente por uma produção global mais resiliente, eficiente e sustentável exige inovação em escala e agilidade de implementação – fatores atendidos por essa convergência.
IA e biotech no agro do Brasil
O agronegócio brasileiro ocupa uma posição estratégica no avanço de IA e biotecnologia. Somos uma potência agropecuária e, portanto, um mercado aquecido para adoção de tecnologias que impulsionam o setor. Por isso, inclusive, vimos nos últimos anos uma ascensão acelerada de agtechs (startups voltadas para o agro) e de inovação corporativa, em que grandes companhias do agronegócio investem internamente para o desenvolvimento de novos produtos e serviços.
O Brasil é o país com a maior biodiversidade do mundo e isso garante uma riqueza ainda maior para a IA e a biotecnologia, pelo arcabouço genético amplo e variado que expande as possibilidades de inovação. A inteligência artificial, por exemplo, ao analisar grandes volumes de dados genéticos e ambientais, pode acelerar a identificação das características mais adequadas para plantas e animais. Isso leva ao desenvolvimento de espécies ainda mais produtivas e sustentáveis em um curto espaço de tempo.
Além dos ganhos financeiros, as tecnologias operam como fundamentais para a preservação da biodiversidade, ajudando a desenvolver cultivos menos dependentes de insumos e mais resistentes a condições extremas. Tecnologias de edição genética, como CRISPR, por exemplo, podem ser usadas para criar plantas que fixam melhor o carbono no solo, contribuindo para a redução dos gases de efeito estufa.
Os benefícios são inúmeros, e escalam com a revolução tecnológica. Para que o país consiga desempenhar um protagonismo nesse sentido, é essencial o constante investimento em P&D (pesquisa e desenvolvimento) tanto por parte do governo, quanto da iniciativa privada.
Além disso, o letramento do setor é essencial para que toda a cadeia produtiva se beneficie das oportunidades globais nessa área. Como uma potência do agro, o Brasil tem todas as condições para aproveitar esse momento decisivo de avanços tecnológicos, e se tornar uma força propulsora de IA e biotech no campo, moldando o futuro global do setor.
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