Entenda a relação entre ESG e o agronegócio
19 de agosto de 2021
Tempo de Leitura: 10 minutos
O setor agro é responsável por 17,3 milhões de empregos no Brasil, segundo pesquisa da USP, e tem a exportação de produtos agrícolas como atividade principal. Os números são expressivos e o setor tem capacidade de manter o seu protagonismo na nossa economia, mas deve seguir avançando na relação entre ESG e o agronegócio.
Mundialmente, o Brasil é protagonista no mercado de alimentos, liderando a produção e exportação de soja, café e etanol. Há espaço para expansão, porque essa demanda seguirá crescente, e ganharemos cada vez mais espaço se adotarmos as melhores práticas do setor.
Por outro lado, um relatório da ONU trouxe conclusões preocupantes sobre as crescentes emissões de gases de efeito estufa e o aquecimento global. A tendência é que a temperatura suba acima da média global no país, além do aumento das chuvas no Sul e Sudeste e da seca no Nordeste. Nesse sentido, mudanças são urgentes para reverter esse quadro!
Por isso, destacamos algumas ações primordiais para que as companhias inseridas no agronegócio se posicionem estrategicamente nessa nova realidade e priorizem a agenda ESG. Boa leitura!
Avanço da pauta ESG e o agronegócio
O agronegócio é responsável por mais de 26% do PIB brasileiro e, durante a crise dos últimos anos, foi o motor da nossa economia. Ainda mais, uma pesquisa do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento indica que a nossa produção de grãos deve avançar 27% até 2030.
Como um dos maiores exportadores de commodities agrícolas, o país tem a oportunidade de liderar a transformação do setor e aplicar os critérios de ESG. Contudo, isso só será possível com o desenvolvimento da pauta sustentável e um novo olhar para o meio ambiente e a sociedade.
As mudanças climáticas e a maior pressão de consumidores por um agronegócio mais sustentável estão no centro da discussão. Ao mesmo tempo, investidores não estão mais dispostos a financiar empresas que seguem com ações ultrapassadas em relação ao meio ambiente.
Por outro lado, aqueles que são proativos no tema são recompensados pelos seus esforços e se destacam. Além de mitigarem os riscos em seu processo produtivo, há também o maior reconhecimento pelo mercado, o que gera acesso a novos mercados, interesse de investidores e maior lucratividade na operação.
Principais ações para adotar os pilares de ESG
Grande parte das metas socioambientais são para 2050 ou para o final do século. Porém, mudanças no curto prazo são urgentes para combater os problemas climáticos e evitar colapsos na sociedade, que ficou ainda mais exposta com a pandemia da Covid-19.
Ao mesmo tempo, esse é um mercado cheio de oportunidades para gerar impacto positivo no planeta. Colocar a responsabilidade socioambiental como prioridade traz vantagens competitivas, mas para isso precisamos seguir avançando nessa agenda nos próximos anos.
Veja algumas ações práticas relacionadas à pauta ESG que podem ser adotadas no agronegócio brasileiro!
Rastreabilidade da cadeia de valor
Mais do que se atualizar nas suas sedes ou atividades principais, as companhias também possuem influência em toda a sua cadeia de valor. Uma gigante do mercado de alimentos não pode ter fornecedores praticando desmatamento ilegal ou utilizando áreas indígenas, por exemplo.
Nesse sentido, aumentar a rastreabilidade e a transparência da cadeia de suprimentos é uma ação necessária para mitigar riscos e garantir o compliance socioambiental. Atualmente, a tecnologia permite o mapeamento dessas variáveis, garantindo a preservação do meio ambiente por todos os atores desse ciclo.
Investimento em inovação e digitalização
A infraestrutura é o maior gargalo no setor de agronegócio no Brasil, segundo pesquisa da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag). Ao mesmo tempo, a digitalização está revolucionando esse mercado e criando uma conexão direta entre escritórios nos centros comerciais e propriedades rurais.
Sem dúvidas, a tecnologia é peça fundamental para manter a sua operação dentro dos protocolos nacionais e internacionais e afastar os principais riscos. Soluções digitais estão disponíveis por preços acessíveis para monitorar as atividades e diminuir os impactos socioambientais causados.
Redução das emissões de carbono e uso consciente de recursos naturais
A emissão descontrolada dos gases de efeito estufa (GEE) é uma das principais causas do aquecimento global. O futuro do planeta depende do compromisso de reverter esse prejuízo e alcançar a neutralidade de carbono — zerar as emissões ou compensá-las quando não for possível acabar de vez.
Assim, há um movimento de grandes corporações para se tornarem Net Zero, ou seja, neutras em carbono. Esse objetivo envolve a economia circular, com a redução do desperdício e reutilização dos produtos, e também o uso de recursos naturais limpos e renováveis, que não causam efeitos negativos na atmosfera com os combustíveis fósseis.
Avaliação do impacto na sociedade
Além do meio ambiente, as empresas que compõem o agronegócio brasileiro também precisam medir os impactos causados na sociedade. Dessa forma, na letra “S” da sigla ESG, o primeiro passo é avaliar se a sua presença traz mais vantagens do que desvantagens para a comunidade em que está inserida.
Se o impacto for negativo, é fundamental encontrar formas de mudar esse quadro e gerar mais prosperidade para o entorno. Além disso, deve-se criar iniciativas para o bem-estar dos funcionários, sempre prezando pela diversidade e igualdade (média salarial e representação racial e de gênero).
Liderança mais transparente
Transparência é uma das palavras de ordem na relação entre a agenda ESG e o agronegócio. Cabe à liderança ter uma comunicação mais clara e efetiva com as partes interessadas no negócio, sempre prezando pela relação de confiança nas suas ações.
Além disso, mudanças podem ser realizadas para incentivar essa transformação, como a maior igualdade na composição dos conselhos e remuneração variável para os executivos com base em metas de sustentabilidade. Uma liderança mais engajada pode mudar a imagem da companhia e do agronegócio como um todo.
Vantagens competitivas da sustentabilidade no agronegócio
Sem dúvidas, a adesão ao padrão ESG deve ser um movimento contínuo para se manter atualizado com as melhores práticas internacionais. Porém, desde já essas ações podem trazer benefícios importantes para os negócios inseridos nesse mercado. Confira as principais vantagens!
Taxas de juros menores
Nos últimos anos, os grandes bancos e instituições financeiras estão oferecendo descontos na taxa de juros para as empresas que adotam práticas mais sustentáveis. Em geral, são premiadas iniciativas concretas que geram impacto positivo para a sociedade, como o reflorestamento ou revitalização de nascentes.
Ao mesmo tempo, o Banco Central abriu uma consulta pública para definir critérios relacionados aos riscos socioambientais e climáticos dos financiamentos rurais. Ou seja, há um movimento para facilitar o acesso ao crédito para as companhias do agronegócio que colocam o tema sustentabilidade como prioridade.
Acesso a novos mercados
O crescimento do planeta indica a necessidade de expansão de 35% na produção mundial de alimentos, segundo a Embrapa. Enquanto isso, o Brasil é conhecido por ser um dos líderes do agronegócio global, com participação acima de 30% na produção de commodities importantes, como soja, café e etanol.
Esses dados comprovam o potencial a ser explorado, mas há um porém: também cresce a pressão por mais sustentabilidade no agronegócio. É fundamental que as empresas brasileiras liderem esse processo e abracem os critérios ESG para acessar novos mercados e não sofrerem com sanções ou pressões internacionais.
Maior lucratividade
Investir em produção mais sustentável permite um posicionamento estratégico das companhias no mercado. Ao mudar a sua forma de fazer negócios, elas serão mais produtivas no médio e longo prazo, porque serão mais eficientes e terão resultados melhores.
A mudança de comportamento dos consumidores é uma das tendências mais fortes nesse mercado. Manter velhas práticas significa arranhar a sua imagem e, por consequência, perder clientes. Por outro lado, empresas reconhecidas pelos esforços em prol do meio ambiente e da sociedade se destacam e vendem mais.
Novos investidores
Os grandes investidores perceberam, antes mesmo dos bancos, a importância da agenda ESG para o futuro dos negócios. O exemplo clássico é do Larry Fink, CEO da BlackRock (maior gestora de ativos do mundo), que nos últimos anos defende investimentos em companhias com olhar sustentável e de longo prazo.
Para você ter uma ideia, a gestora tem mais de US$9 trilhões sob gestão, enquanto o PIB do Brasil em 2020 foi de US$1,445 trilhão. Assim, as empresas do setor que trabalham com gestão socioambiental responsável e transparente largam na frente para captar novos investimentos nos próximos anos.
Papel da governança corporativa no processo
A governança (letra “G” da sigla ESG) é, muitas vezes, deixada de lado quando falamos sobre o tema. Porém, somente com esforços de lideranças seremos capazes de cuidar das outras letras — ambiental e social — e promover uma mudança cultural dentro das organizações.
No seu relatório “Importância da Agenda ESG no agronegócio”, a PwC destacou sete ações que os gestores e empresários do agronegócio devem executar para modernizar a governança corporativa no setor. Todas elas passam pelo desenvolvimento de uma estratégia robusta e atrelada ao plano de negócios.
Destacamos a definição de um plano de sucesso e revisão da estrutura societária, principalmente nas companhias mais tradicionais ou familiares, e também a adoção das melhores práticas de governança corporativa, com gerenciamento de risco e compliance socioambiental.
Cabe ao líder engajar todos nesse processo — desde acionistas até colaboradores — e concretizar um plano de ação que tenha agilidade para responder aos riscos críticos. Ao mesmo tempo, deve atender às mudanças de regulação e de comportamento do consumidor, mantendo um bom posicionamento dentro do mercado agro.
Definitivamente, a relação entre ESG e o agronegócio precisa ser constantemente desenvolvida para manter o setor atualizado à realidade mundial. Além de uma mudança de mentalidade, é importante atacar os gargalos desse mercado, como os problemas de infraestrutura e governança, para deixar o país na rota do crescimento.
A Análise Socioambiental é uma ferramenta para as companhias acompanharem a sua cadeia de valor e mitigarem os riscos socioambientais envolvidos na sua atividade, dentro dos princípios de ESG. Conheça agora mesmo o seu funcionamento e veja como ela pode fazer a diferença na sua operação!
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