Como os fatores ESG estão redefinindo as empresas familiares?
6 de setembro de 2021
Tempo de Leitura: 9 minutos
Você sabia que as empresas familiares contribuem com mais da metade do PIB e dois terços dos empregos no mundo? Esses dados divulgados pela Oxford Academy comprovam o valor dessas companhias para a nossa economia, mas é importante que esse modelo de empresa consiga avançar na adoção da agenda ESG para não sair da rota de crescimento.
Segundo estudo do Bank of America, 80% dos jovens da Geração Z (nascidos entre 1996 e 2016) preferem comprar ou investir em companhias alinhadas com essas métricas relacionadas a Governança, Responsabilidade Social e Preservação Ambiental. Ao mesmo tempo em que têm o potencial para liderar esse mercado, as empresas familiares têm capacidade para melhorar em tais aspectos, como veremos de forma mais detalhada neste artigo.
Confira alguns dados importantes sobre a relação das empresas familiares com a agenda ESG e veja como essas companhias podem se transformar nos próximos anos!
Qual o panorama da agenda ESG nas empresas familiares?
Recentemente, a PricewaterhouseCoopers (PwC) divulgou os resultados da 10ª Pesquisa Global sobre Empresas Familiares, realizada entre outubro e dezembro de 2020. No total, o levantamento contou com 2.801 participantes, em 87 territórios, e trouxe muitas informações relevantes sobre o futuro dessas organizações.
Sem dúvidas, os fatores ESG ficaram no centro do debate, principalmente porque a pandemia foi um teste para o mercado. Mais do que apenas uma tendência, há uma pressão da sociedade e investidores por negócios mais sustentáveis, que sejam responsáveis com o meio ambiente e busquem uma sociedade mais justa.
No caso das empresas familiares que fizeram parte do levantamento realizado pela PwC, as ações ainda são insuficientes nesse quesito. Apenas 35% dos líderes colocaram a sustentabilidade e a comunidade local como suas grandes prioridades, o que indica que há uma dificuldade em demonstrar esse compromisso socioambiental.
Ademais, a transformação digital é lenta — apenas 15% das empresas afirmaram ter digitalização avançada. Apesar de admitirem a importância desse tema, faltam planos de ação efetivos. Para aquelas que estão bem posicionadas, os resultados são animadores: 53% das empresas com fortes recursos digitais têm a sustentabilidade como ponto central, contra 40% do restante.
O próprio relatório indica sugestões para as empresas familiares evoluírem mais na agenda de sustentabilidade e incorporarem os fatores ESG no negócio. Os principais são traçar metas e encontrar formas de medir o impacto das ações, melhorando a tomada de decisões, e seguir os relatórios não financeiros. Diversificar o conselho também é recomendado.
Qual o impacto dos fatores ESG nas empresas familiares?
No momento em que a responsabilidade socioambiental está em alta, as empresas familiares têm vantagens competitivas. A principal delas é o fato de serem consideradas mais confiáveis do que as outras empresas privadas (67% contra 60% das outras empresas privadas, segundo o Edelman Trust Barometer).
Nesse sentido, em um mundo que pede mudanças urgentes, essas companhias estão prontas para liderar essa transformação. Porém, apesar desse potencial, a pauta ESG ainda foi colocada totalmente como prioridade, o que pode ser prejudicial no longo prazo.
Separamos os resultados para cada letra da sigla ESG, destacando também as ações recomendadas em cada cenário. Veja mais!
Sustentabilidade
A dinâmica da empresa familiar tem muitas vantagens, principalmente em momentos de crise. Resiliência, pensamento de longo prazo e compromisso com valores são alguns atributos importantes apontados pela PwC. Porém, no quesito sustentabilidade, é importante preencher algumas lacunas.
Na pesquisa, enquanto 56% dos entrevistados enxergam a chance de liderar o processo no Brasil, somente 39% afirmaram ter uma estratégia de sustentabilidade. Ou seja, o resultado indica que as oportunidades nem sempre são aproveitadas, ligando um sinal de alerta para essas companhias.
Um ponto fundamental é entender como será possível alcançar zero emissões líquidas de carbono. Atualmente, apenas 6% dos entrevistados colocam esse tema como prioridade, mas o avanço do aquecimento global requer atuação mais efetiva para reverter o quadro — tornar a produção mais circular e usar os recursos naturais com responsabilidade são exemplos a serem seguidos.
A PwC recomenda algumas ações para as empresas familiares, entre elas a incorporação dos fatores ESG no plano de negócios e o desenvolvimento de uma comunicação mais efetiva sobre metas e conquistas. Nesse sentido, é importante buscar formas de medir não somente os resultados financeiros, mas também os avanços “intangíveis” sobre o tema.
Responsabilidade social
Como aponta a PwC, a mentalidade de retribuição é um dos pontos fortes da empresa familiar. De fato, quando falamos dos fatores ESG, a responsabilidade social tem papel essencial, porque as companhias devem gerar um impacto positivo para seus funcionários e também para a comunidade em que estão inseridas.
Durante a pandemia da Covid-19, um aspecto interessante das empresas familiares é que elas foram mais resilientes e adaptáveis. Cerca de 82% delas não precisaram de capital adicional, o que indica uma manutenção nas suas atividades, enquanto 88% dos funcionários foram colocados em trabalho remoto.
Igualmente, 80% das empresas no Brasil afirmaram ter algum tipo de atividade voltada para a responsabilidade social, com destaque para a filantropia. São números interessantes e que comprovam essa pegada mais social, mas será necessário ir além e implementar a cultura ESG também nas suas operações e não somente como um “extra”.
Dentro das ações recomendadas pela PwC, o desenvolvimento de uma comunicação eficiente novamente aparece como ponto de atenção. Além disso, é necessário colocar a sustentabilidade como fator na tomada de decisões, que pode trazer uma melhor percepção de marca e menor custo de capital.
Governança
Em geral, as empresas familiares seguem a tradição de passar o comando dos negócios para as gerações seguintes. Nesse caso, preservar o bem de todos é a prioridade (para 80% dos entrevistados no estudo, junto com a criação de um legado), mas a falta de uma governança corporativa bem definida pode minar os resultados no longo prazo.
A resolução de conflitos é uma área da governança que pode avançar. No estudo, 21% dos entrevistados mundialmente afirmaram não ter nenhum mecanismo formal para lidar com esses problemas. Como destaca a PwC: “a harmonia familiar não deve ser dada como certa”, porque conflitos são comuns (apenas 23% disseram nunca ter tido nenhuma discordância).
Além disso, uma mudança importante que deve ser aplicada é a documentação. Apenas 51% das empresas familiares têm declaração de propósito, enquanto 55% têm valores escritos. De fato, os resultados são animadores: 81% dessas companhias esperam crescer em 2021, contra 74% das que não documentam os valores.
Diversificar a composição do conselho, trazendo mais pessoas “de fora” da família e profissionalizar a governança familiar são ações sugeridas pela PwC para desenvolver o tema. É fundamental permitir a ajuda externa, principalmente na resolução de conflitos, e entender que as famílias são dinâmicas e a empresa precisa acompanhar essas mudanças.
O que as empresas podem aprender com os resultados?
Na pesquisa, dois quesitos se destacam em relação às empresas familiares: falta de ações concretas sobre sustentabilidade e atraso na digitalização. Pensando no agronegócio, esses fatores dificultam o seu crescimento para o futuro, principalmente porque inovação e tecnologia são fatores importantes para o seu desempenho.
Entre as empresas com fortes recursos digitais, 71% apresentaram crescimento antes da pandemia contra 60% do restante. Durante a pandemia, aquelas que estavam preparadas foram capazes de criar mais valor e aproveitar as novas oportunidades do mercado.
A própria PwC traz exemplos de companhias que atuavam em um nicho e, com a nova realidade, conseguiram pivotar as operações para conquistar outros espaços. No campo, a tecnologia é peça-chave na busca por um agronegócio mais sustentável, monitorando toda a cadeia de valor e afastando riscos socioambientais.
Internamente, um dos ensinamentos é a profissionalização das atividades. O fato de uma empresa familiar ter pessoas próximas é positivo para as rápidas adaptações, mas a tradição não deve ser o único valor a ser considerado. Se a discordância é inevitável, o jeito é investir em mecanismos profissionais de resolução de conflitos e planejar essa harmonia pensando no futuro.
Por isso, a governança familiar deve entrar em pauta. Todos os valores precisam ser documentados, mesmo que haja sintonia entre as pessoas. Também é importante respeitar as vontades das próximas gerações e, mais do que isso, atualizar constantemente as suas estruturas.
Por fim, as empresas familiares precisam manter seus valores de cuidado com funcionários e comunidade, mas progredir em pautas de sustentabilidade. O segredo será aprender a comunicar as suas ações com maior clareza para o público e avançar na transformação digital para proteger os ativos do negócio.
Em resumo, essas foram as principais conclusões da pesquisa:
- Embarque no ESG: as empresas familiares têm reputação de cuidar da parte social, mas podem perder o protagonismo na agenda ESG se não comunicarem melhor suas ações.
- Transformação digital: tirar os projetos de digitalização do papel para buscar progressos no futuro.
- Profissionalização da governança: trazer a gestão empresarial para as empresas familiares é um meio para garantir o sucesso contínuo.
Implementar os fatores ESG no plano de negócios será fundamental para o sucesso das empresas familiares no futuro. Definitivamente, a tecnologia será um motor para essa transição, principalmente no agronegócio, onde as companhias estão expostas a riscos socioambientais e sofrem diretamente com as mudanças climáticas do planeta.
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