Territórios rurais: Principais atividades e operações financeiras relacionadas ao uso do solo
3 de março de 2022
Tempo de Leitura: 11 minutos
Quando discutimos o potencial dos territórios rurais dentro do agro brasileiro, é muito comum falarmos que somos o maior “celeiro mundial”, oferecendo alimentos para boa parte do planeta.
Seriam essas afirmações verdadeiras?
Com uma área agricultável de 550 milhões de hectares – o equivalente aos territórios somados de 32 países da Europa – o Brasil, de fato, se comporta como uma verdadeira potência agrícola mundial.
Mas, todo esse potencial do agro brasileiro não foi conquistado na última década, nem no último século… Todo esse sucesso é resultado dos consequentes usos dos territórios rurais desde o descobrimento do Brasil, há mais de 500 anos.
Neste texto, abordaremos todo o histórico do uso do solo e as atividades realizadas nos territórios rurais brasileiros, desde o descobrimento até os dias atuais. Apresentaremos o cenário atual, que mostra que o Brasil preserva sim suas reservas naturais, decorrente de uma agricultura sustentável.
Territórios rurais no Brasil: Vocação agrícola desde nosso descobrimento
Desde sempre, a agricultura sempre foi uma das principais bases da economia brasileira e essa vocação agrícola tem relação direta com o histórico de uso dos nossos territórios rurais.
Essa história iniciou-se com a carta de Pero Vaz de Caminha enviada ao rei Dom Manoel, em 1500, que já apresentava registros sobre o uso do solo no Brasil, Veja um trecho:
“Porque os corpos seus são tão limpos, e tão gordos e tão formosos, que não pode mais ser. Eles não lavram, nem criam, nem há aqui boi, nem vaca, nem cabra, nem ovelha, nem galinha, nem outra nenhuma alimária, que costumada seja ao viver dos homens. Nem comem senão desse inhame, que aqui há muito, e dessa semente e frutos, que a terra e as árvores de si lançam. E com isto andam tais, e tão rijos, e tão nédios, que o não somos nós tanto, com quanto trigo e legumes”. (Caminha, 1500).
A expressão de Caminha reflete a visão da época, na perspectiva do europeu, sobre a relação entre os índios e a natureza, na qual o Brasil tinha poucas pessoas que conviviam numa área muito grande, vivendo de maneira sustentável.
Mas, assim que os primeiros colonos começaram a ficar na Ilha de Vera Cruz, a coroa portuguesa focou na exploração extrativista de recursos da terra, principalmente o pau-brasil, a maior riqueza da época.
Ocupação dos territórios rurais no Brasil: Início na faixa litorânea
Após a chegada das primeiras expedições, iniciou-se a ocupação do Brasil e de seu território. Esse processo teve início a partir de sua faixa litorânea.
Os núcleos litorâneos foram sendo desenvolvidos em função da exploração de produtos extrativos (como o pau-brasil) e da produção agrícola voltada para a exploração, indicando um vínculo e uma fraca articulação com o interior do território.
Posteriormente, o governo português concentrou seus esforços para a difusão da produção de cana-de-açúcar, que chegou ao país em 1531 na baixada santista. Na região foram construídos 16 engenhos, porém, estes tiveram pouco sucesso, devido à maior distância da metrópole e as características do solo (arenosos ácidos e de mangue).
É importante lembrar que na época não havia o manejo de adubação. Contava-se apenas com a fertilidade natural dos solos.
Mas, mesmo com as dificuldades para uso do solo, dos altos custos dos meios de transporte e da escassez da mão-de-obra, a produção foi compensada pelo preço do açúcar no mercado europeu.
Séculos XVI e XVII: O interior do país começa a ser ocupado
Desde o início do povoamento do nosso território, a população sempre esteve bastante restrita ao litoral. Mas, a partir do século XVII a penetração no território tornou-se mais efetiva.
A ocupação de seu interior se deu também através da instalação da pecuária bovina em áreas não propícias ao desenvolvimento da cana-de-açúcar, inicialmente no eixo do rio São Francisco, contribuindo para o sertão semi-árido.
Os primeiros bovinos chegaram ao Brasil na expedição de Martin Alfonso de Souza, em 1533, vindos de outras colônias portuguesas, como Açores e Cabo Verde, com destino à Salvador (BA). Com o incentivo da Coroa Portuguesa à exportação de gado ao Brasil, a partir de algumas raças ibéricas, como a Galega e a Alentejana, que deram origem às raças Crioulo e Caracu, foram surgindo as raças nacionais e se formando o rebanho brasileiro.
As ocupações de grandes extensões de área tiveram como objetivo principal a criação de animais. Essa atividade criteriosa deu origem à formação dos primeiros núcleos urbanos no interior do Brasil.
No sudeste surgiu São Paulo, que contribuiu para uma rápida expansão da ocupação do interior. Revelou-se então a existência de importantes riquezas minerais em terras que hoje pertencem a Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso.
A descoberta de minerais provocou o deslocamento do povoamento para o interior, mesmo que de forma temporária, uma vez que se baseava na exploração aluvial.
Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste: Ocupação a partir do século XVIII
No extremo sul do Brasil, a colonização se deu com núcleos portugueses, assentando, no Rio Grande do Sul, os colonos açorianos.
Esta região já havia sido alvo de incursões de criadores paulistas, que haviam se estabelecido em áreas de campo, desenvolvendo a pecuária. Na época, a cidade de São Paulo era um centro de comercialização para integração das diferentes áreas povoadas.
Por volta do séc. XIX, essa ação colonizadora instalou mais de vinte colônias que permaneceram até o fim do século. O sistema de apropriação de terras, através de colonização oficial ou particular, foi implantado também em outras regiões de mata.
Como consequência dessa expansão, ocorreu uma centralização de antigos núcleos urbanos dessas áreas, ao mesmo tempo em que surgiram novas aglomerações urbanas pela atividade cafeeira.
Em São Paulo, a difusão cafeeira deu-se na expansão da rede ferroviária, que ocorreu de forma paralela ou consequentemente à ocupação, favorecendo o crescimento demográfico do estado.
No entanto, o uso inadequado dos solos cultivados com as lavouras de café promoveu o rápido esgotamento do solo, uma vez que não houve a preocupação com a prática de métodos de conservação. Assim, um movimento natural foi o deslocamento constante da lavoura cafeeira em direção às novas áreas.
Com isso, o povoamento atingiu o norte do Paraná, cujas condições eram semelhantes às de São Paulo. Nessa área, a colonização particular promovida por estrangeiros, responsáveis pela instalação de uma infraestrutura rodoferroviária, atraiu colonos oriundos de outros estados.
Aos poucos os colonos europeus foram ocupando encostas e vales do planalto meridional, estabelecendo-se em unidades de pequena produtividade e provocando o aparecimento de centros urbanos no interior de Santa Catarina e Paraná.
Com a Proclamação da República, as terras devolutas passaram a ser propriedades do Estado. Isto contribuiu para acelerar a ocupação na direção oeste.
Em Santa Catarina, predominou a colonização particular, promovida pelo capital comercial europeu, em direção ao planalto. Este tipo de colonização expandiu-se até o norte e juntou-se à frente de expansão paulista.
Ainda na metade do séc. XX, outras áreas foram objetos de colonização oficial e particular, dando destaque às colônias do Vale do Rio Doce (SP), do Mato Grosso, de Goiás e Uvá (GO), e de Dourados (MS).
Construção de Brasília: Ocupação dos territórios rurais do Brasil central
Na década de 70, a construção de uma nova capital deu-se num curto espaço de tempo, impulsionando a ocupação do Brasil Central. Com isso, ocorreram mudanças no traçado da malha rodoviária nacional, isso permitiu a incorporação de novas áreas à economia nacional, acelerando o ritmo no interior do País.
A década de 70 caracterizou-se pela valorização das terras de Cerrado do Centro-Oeste. A valorização dos territórios rurais do Cerrado ocorreu em função de dois aspectos:
- Proximidade dos grandes centros urbanos do País; e
- Topografia plana, considerada um facilitador da mecanização de atividades agrárias, que começavam a ganhar força.
Esses aspectos favoráveis vieram ao encontro da necessidade de expansão da agricultura gerada pelo modelo de País que privilegiava a produção agrícola exportável.
No mesmo momento, a região do centro-oeste rapidamente se tornou a nova fronteira agrícola do Brasil, com a ocupação de muitos territórios rurais. Em pouco tempo, o Mato Grosso, por exemplo, tornou- se o maior produtor de grãos do país.
Neste mesmo período, a Embrapa Cerrados, criada em 1975, foi de grande valia para o desenvolvimento do cerrado. A região apresentava problemas agronômicos específicos que exigiam estudos em ciências agrárias para estimular o crescimento da produtividade da atividade agrícola.
Logo a Embrapa tratou de estabelecer sistemas capazes de vencer a acidez do solo do Cerrado. Foram realizados estudos sobre calagem, uso do gesso na agricultura e fertilidade do solo.
Novas tecnologias também foram desenvolvidas como uso da adubação verde, fixação biológica de nitrogênio nas plantas, sistemas de irrigação e melhor aproveitamento da água, dentre outras tecnologias que resultaram em bilhões de reais de economia para o país, principalmente devido à redução dos riscos do seguro agrícola.
Uso de territórios rurais no Brasil atual: Potência agroambiental
Na atualidade, a contribuição do agronegócio brasileiro na economia continua imensa. O setor é responsável por quase 27% do PIB nacional, responde por 48% das exportações e 22% dos empregos gerados no Brasil.
Dados do mapeamento das áreas destinadas à preservação da vegetação nativa cadastradas no CAR mostram uma visão completa do uso e ocupação das terras em todo o território nacional.
Com base em imagens de satélite e fontes cartográficas de diversos órgãos federais e estaduais, é possível conferir a quantificação das demais formas de uso e ocupação das terras.
Essa síntese nacional é apresentada a seguir:
Quantificação das áreas destinadas à proteção e preservação da vegetação nativa e demais usos e ocupação das terras no Brasil (2018)
Pela tabela de uso da terra apresentada, vemos que mais de 66% do território brasileiro é dedicado à proteção, conservação e preservação da vegetação. Observamos também que toda a produção de grãos (milho, arroz, soja, feijão…), fibras (algodão e celulose) e agroenergia (cana-de-açúcar e florestas energéticas) ocupa apenas 9% do país.
Esses dados são decorrentes de um trabalho de pesquisa do Grupo de Inteligência Territorial Estratégica (GITE) da Embrapa, com informações do Cadastro Ambiental Rural (CAR), criado pela Lei 12.651/12.
Assim, com base nestes dados é possível entender que o Brasil protege legalmente suas áreas florestais, bem acima do que outros países do mundo (30% contra 10% na média).
Além disso, os produtores rurais brasileiros destinam à preservação da vegetação uma área que corresponde a 20% do Brasil, número maior do que a média dos 9 países com mais de 2,5 milhões de Km².
Dessa forma, pode-se concluir que o Brasil é sim um dos maiores produtores agrícolas do mundo com números crescentes, mas na questão da proteção legal da vegetação, o país protege e preserva 66,3% de seu território.
Somos os maiores produtores de alimentos do mundo, com uma agricultura tropical muito produtiva, mas ainda assim somos campeões da preservação da vegetação.
Leia nosso artigo e entenda mais sobre a importância do monitoramento de territórios rurais.
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