Boi gordo: Entenda o mercado, cadeia produtiva e formação de preços
21 de março de 2022
Tempo de Leitura: 10 minutos
Não há dúvidas, o mercado brasileiro de boi gordo é um dos mais expressivos no âmbito mundial. Oferecemos produtos de excelente qualidade e somos competitivos, com grande destaque na produção. Consumo interno e exportação.
Com anos e mais anos de experiência, a cadeia brasileira da carne é altamente organizada, com o estabelecimento de parcerias entre pecuaristas/produtores, frigoríficos e mercado consumidor.
Toda essa organização permitiu que o boi gordo representasse um ativo financeiro de grande importância no cenário econômico, sendo negociado por meio da Bolsa de valores brasileira, a B3.
Na bolsa, o mercado futuro de boi gordo, por exemplo, é utilizado como um meio de gestão de risco sobre as oscilações de preços dessa commodity, considerada uma das mais importantes para o Brasil.
Entretanto, muitas pessoas não entendem como funciona o mercado de boi gordo. Algumas não conhecem o funcionamento do contrato de negociação, outras nem sabem como se dá a formação de preço dentro da cadeia produtiva.
Com este conteúdo, convidamos você a entender o tamanho da cadeia pecuária brasileira, como ela é organizada e como se dá a formação do seu preço.
Pecuária de corte brasileira: Características e peculiaridades importantes
Mesmo diante dos muitos desafios impostos nos últimos dois anos (pandemia, juros altos, recessão econômica, isolamento social etc), a pecuária brasileira de corte se manteve muito forte e ativa, representando cerca de 10% do PIB do agronegócio brasileiro.
Dados do Beef Report – Perfil da Pecuária Brasileira – 2021, indicam que em 2020, o PIB da pecuária de corte movimentou pouco mais de R$ 747 bilhões no ano.
Além disso, nossa pecuária dispõe de um rebanho de 187,55 milhões de cabeças, com um abate registrado de 41,5 milhões de cabeças. Nesse mesmo período o Brasil registrou um aumento de 8% nas suas exportações de carne bovina, que passaram de 2,49 milhões TEC (Tarifa externa comum) em 2019 para 2,69 milhões TEC em 2020.
Esse aumento das exportações foi decorrente de basicamente 2 fatores:
- Aumento do número de países de destino, que passou de 154 para 157 países; e
- Aumento do volume de carne destinada a mercados já consolidados, como a China, cujo volume exportado aumentou incríveis 127% entre 2019 e 2020.
O número de animais em confinamento também é crescente no país. Dados do Censo de Confinamento DSM 2021, o Brasil teve, no ano de 2021, confinou 6,5 milhões de animais, indicando um crescimento de 2% em relação ao ano anterior.
Mas, a cadeia produtiva da pecuária brasileira vai muito além de fazendas e confinamentos. Hoje, essa cadeia agrega, além dos pecuaristas, os fornecedores de insumos, frigoríficos e comerciantes, que participam das transações nas condições de comprador, vendedor ou intermediário.
Cadeia produtiva do boi gordo no Brasil: 3 fases que se complementam
A cadeia produtiva do boi gordo é um conjunto de componentes que interagem entre si. Ela pode ocorrer por meio de diferentes sistemas produtivos, com fornecedores de serviços e insumos, indústrias de processamento e transformação, distribuição e comercialização de produtos e subprodutos e seus respectivos consumidores finais.
Com base nisso, a cadeia produtiva do boi gordo pode ser dividida de diversas formas e abordagens. Mas, de forma geral, essa cadeia envolve 3 fases que se complementam:
1ª Fase: Antes do Sistema de produção (“Antes da Porteira”):
Nesta etapa são englobados todos os setores relacionados ao que ocorre antes da produção propriamente dita, ou seja, material genético (reprodutores, sêmen e embrião); indústria de insumos (produtos veterinários, rações, adubos); indústria de máquinas e equipamentos; comercialização de animais.
2ª Fase: Dentro do Sistema de Produção (“Dentro da Porteira”):
Esta fase engloba toda a estrutura relacionada à cadeia produtiva do boi gordo, caracterizado pelas atividades de cria, recria e engorda.
Cria
Essa atividade compreende a reprodução e o crescimento do bezerro até a desmama, que ocorre entre seis e oito meses de idade.
Recria
Vai da desmama ao início da reprodução das fêmeas ou ao início da fase de engorda dos machos. Essa é a fase que possui um período de duração mais longa.
Engorda
Quando feita no regime predominante de pasto, essa etapa tem duração de 6 a 8 meses.
Os sistemas de produção são também classificados em extensivos, semi-intensivo e intensivo, este último representado pelos confinamentos.
3ª Fase: Depois do Sistema de Produção (“Depois da Porteira”):
Nesta fase são consideradas as agroindústrias, como frigoríficos e matadouros, indústria de couros (curtumes) e graxarias e indústrias logísticas.
A indústria logística atua em processos como a definição dos melhores meios para transporte dos produtos, estabelecer as formas de armazenamento mais otimizadas em termos de custo-benefício, e do acompanhamento de todo o trajeto, de maneira a assegurar a integridade da carga.
E, todos estes processos, desde antes da porteira até a logística de transporte da carne envolvem custos e estes precisam ser considerados na formação do preço do boi gordo. Exatamente por essa razão, melhorar a rastreabilidade da cadeia de suprimentos torna-se uma necessidade recorrente.
Formação do preço do boi gordo: Forma, tempo e espaço
O preço de todas as commodities (grãos, petróleo, minério de ferro, açúcar, carne bovina etc) é sempre formado pelo equilíbrio entre a oferta e a demanda, que pode ser facilmente representado pelo gráfico abaixo:
Quando a oferta de um bem ou de um determinado produto é muito maior que a procura, naturalmente seu preço tende a se reduzir. A situação inversa também é verdadeira, onde a demanda ou a procura é superior à oferta, a tendência mais natural será o aumento do seu preço.
No caso do mercado do boi gordo, a formação dos preços segue exatamente a mesma lógica: volume produzido dentro da porteira e nos frigoríficos versus a demanda do varejo e do consumidor.
Mas, para entender melhor essa relação, vale conhecer os vetores formadores de preço do boi gordo. São basicamente três grandes vetores: Forma, tempo e espaço.
A forma do grau de processamento da carne bovina, assim como sua industrialização, representa um importante fator que irá nortear a precificação do boi gordo.
O segundo vetor é o tempo. Ele visa identificar quando o produto vai entrar no mercado e quanto custa estocar a produção. Esse ponto depende do entendimento do mercado consumidor, seja interno ou externo, o que vai dispender de custos de estocagem e refrigeração.
O terceiro grande vetor é o espaço. Ele está relacionado com o local de oferta de animal – boi gordo – e a demanda final da carne bovina.
Neste contexto, sabe-se que a carne bovina possui grande preferência do consumidor brasileiro, com seu consumo ocorrendo em todo território nacional, concentrando-se evidentemente em grandes centros.
Por outro lado, nos últimos anos, os sistemas de produção de boi gordo foram deslocados para a região centro-oeste e norte do país na busca de terras mais baratas para a produção, fazendo com que haja um diferencial de preços devido à logística e impostos.
Outros fatores considerados na formação do preço do boi gordo
Nos sistemas de mercado atuais, os preços do boi gordo respondem principalmente pela sazonalidade de produção, ou seja, a oferta em muitos anos é o fator determinante no estabelecimento dos preços.
Assim, a curva de preços responde por maior oferta de animais bovinos na safra, entre dezembro e abril/maio, com níveis mais baixos nas cotações.
Já nos meses de maio a novembro há uma posterior ascendência nos preços, devido à entressafra. Ou seja, menor oferta de gado prontos para o abate devido a menor oferta de alimento, impactando nos custos de produção e, consequentemente, valorização do produto final.
Por fim, os fatores externos à produção também costumam interferir nesse ritmo e tendência de preços do boi gordo, como câmbio valorizado, mudanças nos hábitos alimentares, aumento ou crise na demanda, problemas sanitários em regiões produtoras e questões comerciais.
Boi gordo: Ativo financeiro negociado na bolsa de valores
Os preços do boi gordo, caracterizados como pouco voláteis, são ativos muito atrativos para os gestores de fundos de investimento. A inclusão do boi nessas carteiras produziu resultados interessantes para o gerenciamento de riscos da economia, desde riscos econômicos até riscos reputacionais.
Para atuar neste mercado é preciso entender e considerar o indicador da arroba do boi gordo CEPEA/B3, referência no mercado de corte brasileiro.
Este indicador é uma média diária ponderada de preços por arroba à vista de boi gordo no estado de São Paulo. Ele é divulgado em todos os dias úteis, de forma ininterrupta, desde março de 1994.
A média dos Indicadores dos últimos cinco dias úteis de um determinado mês é utilizada pela B3 para liquidar os contratos futuros de boi gordo lá negociados. O mercado futuro do boi gordo é um ativo financeiro amplamente utilizado como um meio de gestão de risco sobre as oscilações de preços dessa commodity.
De forma resumida, os contratos futuros de boi gordo são caracterizados como acordos de compra e venda de arrobas, em uma data futura, por um preço preestabelecido no momento da negociação.
Com isso, o pecuarista, o frigorífico e o investidor com atuação no mercado futuro do boi gordo terão algumas vantagens ao acompanhar este indicador:
- Consegue seguir as tendências do mercado;
- Permite alavancagem. Isso significa que o investidor consegue movimentar grandes volumes financeiros sem ter todo o financeiro depositado em conta.
- Oferece maior proteção aos investidores, protegendo-os de possíveis oscilações nos preços da commodity numa data futura.
Por todos estes pontos citados neste texto é essencial ter conhecimento de mercado do boi gordo e de toda a cadeia de valor, somente assim os atores deste amplo mercado podem se antever aos cenários e se planejar a partir deles.
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